quinta-feira, janeiro 25, 2007

É, talvez tenha sido por amor.

E lá estava ele, encarando-a.

Encarando aquele corpo estendido na cama. Fixava o olhar na cabeça e ia descendo seguindo as perfeitas curvas, que não foram suficientes para prender-lhe a atenção que logo foi desviada pelas gotas de sangue pingando no chão, uma a uma.

Isso provocou-lhe uma imensa sensação de nostalgia. Pensou se estaria arrependido. Não. Arrependimento não era a palavra certa. Ele não estava estava satisfeito. Sim, era isso! A satisfação não era completa. E isso o fez lembrar do início, quando se conheceram, ela, um pouco mais nova, mas aparentando ser intelectualmente muito mais velha. Ele, um simples rapaz, com uma simples beleza, cursando uma simples faculdade para ter um simples emprego. E como todo simples homem, sonhava com uma simples mulher. Mas não. 'NÃO.' - ecoa o grito em sua mente. De simples ela não tinha nada. Era uma mulher incrível. Fisicamente, era muito bela. E uma pessoa incrível. O que fez ele se perguntou muitas vezes o que ela estaria fazendo com ele. O que é normal, afinal, pessoas incríveis não procuram simples pessoas. Ou seria o contrário? Não importa. E as lembranças continuam... o namoro perfeito, as juras de amor eterno. O que provavelmente seria, se não tivesse acontecido o que aconteceu. Nem ele sabe o que aconteceu direito. Nem eu. Muito menos você.


O olhar é desviado novamente para o corpo na cama. Nua. Pálida. Quanto mais ele a olha, mais ele lembra. Não suportou o fato dela ser melhor do que ele. Ser melhor em tudo. Talvez por isso tenha feito o que fez. Acabado com sua existência. Mas assim foi pior. Ele não acha, mas foi. Dessa maneira, ele não foi capaz de provar a ela que ele era melhor. Ela morreu sendo melhor e assim vai continuar sendo.

Parece que algo o encara. A sensação de estar sendo observado é inevitável.
Mas não há ninguém, apenas as horas. As horas que não se calam, não param de passar. Aconteceça o que acontecer, as horas vão continuar passando. Aquelas horas que matam tudo como um último suspiro de felicidade. As horas que vão sempre existir entre os dois. 'Mas foi por amor.' - ecoa novamente em sua mente. Que seja, as horas de amor que vão sempre existir entre eles. Ou não. E assim, descobre o porquê não está satisfeito. Por causa dessas horas.

Resolve tomar um banho. Liga a água quente na banheira, esperando-a encher por completo.
Enquanto isso, vai até o armário de remédios onde pretende buscar o que precisa. E acha. Vai até a banheira, entra, toma 5, 6, 7 comprimidos. Nem ele sabe. Muito menos eu. Não gosto de ficar prestando atenção nessas coisas. Espera um tempo, até o remédio fazer efeito. Ao se sentir sonolento, pensa: 'Agora sim, a satisfação é completa. E foi por amor.'

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